Peguei no velho chavão usado por uma entidade bancária, calculo que no século passado, para esta nota fotográfica. Tudo porque em recente saída fotográfica convenci aqueles com quem partilhei o dia a fotografarem, durante algum tempo, simples bancos de jardim. O desafio de fotografar os bancos de jardim não se ficou pelo registo fotográfico, porque pedi, como é hábito nas minhas saídas, que as pessoas organizassem as suas melhores fotos e me as enviassem, para poder montar um portfolio que vai acabar, com outras fotos do dia, num eBook que tento, sempre, seja a pedra de fecho de cada uma das experiências fotográficas comigo. Fotografar bancos de jardim, quando não existe variedade entre eles, dado serem todos da mesma fornada e colocados no mesmo espaço, pode parecer uma perda de tempo, mas o que me interessava no desafio era mostrar quanto se pode descobrir ao investir num mesmo motivo durante algum tempo, em vez de corrermos atrás da próxima foto. Luz, ambiente, tudo se conjuga nestas imagens em que se tenta reproduzir o ambiente próprio do local fotografado, e de que os bancos são testemunho central num convite a um momento de pausa, à companhia de um livro, a uma paragem meditativa. Enquanto espero pelas fotografias dos participantes, decidi usar uma série das minhas fotos dos mesmos bancos para exemplificar a minha ideia. Cada uma das fotos escolhidas vale por si, mas é também um esboço para uma imagem final que, eventualmente, acaba por ser a que preferimos. No meu caso, é a foto que abre esta nótula que cumpre esse objectivo, se bem que as outras sejam, no meu entender, interessantes exercícios exploratórios que ajudam a desbravar o caminho para aquilo que em inglês se costuma chamar “the hero image”. E que por força desse papel abre estas linhas.
Fotografar um elemento demoradamente é algo que está subjacente ao tipo de fotografia que tento levar as pessoas a praticarem. Essa forma demorada e elaborada de trabalhar tem, a meu ver, benefícios, não só por contribuir para uma progressão mais lenta no terreno, propícia a uma espécie de contemplação, que é o que esta fotografia é e pretende espoletar, mas também por levar as pessoas a apreciarem o motivo fotografado, numa espécie de imersão total dos sentidos para que contribui a “solidão” que sempre aconselho seja praticada nas saídas, apesar de funcionarmos como um grupo, nos aspectos de protecção e companhia que tal significa. Mas é importante, estando no grupo, que cada um faça a sua fotografia. Acho que os resultados das actividades que tenho organizado demonstram a mais-valia dessa “solidão”, que se traduz numa multiplicidade de visões, até dos mesmos temas, que enriquece o grupo quando se pega no eBook conjunto e se olha para fotos que, por vezes, foram feitas a nosso lado mas nos escaparam totalmente. Estes bancos, os meus, são, porventura, um exemplo dessa riqueza da fotografia. Podem não ser as fotos que vão ganhar “likes” em redes sociais, mas são sinais de um empenho na descoberta da luz, forma e organização dos elementos que representam momentos únicos de contemplação e libertação do stress diário. Essa é uma via que me interessa explorar e partilhar quando se fala de fotografia.
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