Eu gosto de ovos estrelados. Mas também gosto deles quentes. E escalfados. Ou mexidos. Por isso prefiro sempre ter um ovo original, a partir do qual posso fazer várias receitas, consoante me apetece. Com ovos estrelados… só posso fazer ovos estrelados. Em fotografia também! Este texto começou a tomar forma definitiva há um par de dias, por causa da informação sobre a nova câmara da Canon, EOS 1300D (ou Rebel T6 em alguns mercados), a primeira reflex da marca a oferecer um “Food Mode”. Eu tinha a ideia em mente, mas ler sobre a câmara definiu a moldura final do que queria partilhar com quem me quiser ler. Talvez como reflexo do facto de tantas pessoas fotografarem o que comem – sou culpado disso também, por vezes – a Canon decidiu que fazia sentido implementar tal modo, que dá mais cor aos alimentos, algo que pode interessar a quem cria blogs sobre comida. Para resumir uma longa história, eu escrevi sobre o aparelho, não sobre esse aspecto mas sobre outros, num texto que pode descobrir se seguir a ligação aqui presente: No Dual Pixel AF for the EOS Rebel T6 Ficou-me, contudo, a ideia da comida e de como alguns usam funções da câmara para darem um brilho final às suas imagens, quer usando um dos perfis presentes (paisagem, retrato, nostalgia, amanhecer, etc.) ou mesmo um modo de operação de que há imensos: fotografia nocturna, macro, desporto, paisagem ou cozinhando receitas próprias, no que eu chamaria de “fotografia por números”, numa adaptação livre do conceito “paint by number”. Faça uma busca no Google pelo termo e entenderá a piada… Tudo isto está muito bem quando se começa na fotografia, sendo muletas que ajudam a resolver situações - é uma espécie de "fast food" da fotografia - e, por vezes, se as pessoas forem curiosas e espreitarem para “o outro lado da cortina”, a aprender o que sucede com cada modo escolhido. O que se aprende aí ajuda, quem estiver interessado, a avançar rapidamente noutras direcções, o que é urgente fazer. Mas não é sobre isso que pretendo escrever aqui. Esta nota é sobre ovos estrelados e Fotografia. Como escrevi acima, gosto de ovos estrelados, amarelinhos, com sal e pimenta, para molhar o pão e embrulhar o arroz. Mas não recuso um perfeito ovo quente, hábito que adquiri nos anos 70 do século passado enquanto vivia no Norte da Europa, ou mesmo um ovo escalfado com um toque de vinagre, trazido da Grã-Bretanha quando por lá passei algum tempo. E uma boa omolete, ou um rápido ovo mexido deliciam-me. Ora para fazer cada um destes acepipes tenho de ter um ovo cru.
É aí que os ovos e a Fotografia se juntam. Porque em Fotografia eu também gosto dos meus “ovos” de diferentes maneiras. Ora, se eu os cozinhar na câmara, terei alguma dificuldade, depois, em fazer novo cozinhado fora dela. Mas eu, na Fotografia e na comida, gosto de variar. É por isso que quando as pessoas me perguntam como configuro as minhas câmaras, lhes digo que é tudo o mais natural possível. O perfil é o Neutro, e mais nada. Faço RAW (onde nada disto tem importância), mas mesmo que faça JPEGs, tenho sempre um original que tem o mínimo possível de pós-produção dentro da câmara. Porquê? Porque, tal como dizia Ansel Adams, o negativo é a partitura do compositor sobre a qual depois o fotógrafo executa a peça, um foto impressa, com as variações que entender. Ora essa riqueza atinge-se melhor se registarmos uma imagem com menor tratamento na câmara e depois a editarmos no computador. Tal como antigamente, em que se faziam negativos de forma simples e só depois se lhes dava tratamento. Com o diapositivo, que era um produto acabado, era um pouco diferente, até porque o diapositivo exigia muito maior rigor da exposição do que o negativo. Alguns podem querer comparar o moderno ficheiro digital em formato JPEG e modificado na câmara a um diapositivo, mas essa ideia é não só errada como limitativa, porque num tempo em que temos acesso a tantas ferramentas de pós-produção – e tão fáceis de usar – não faz sentido “cozinhar” fotografias dentro do sistema limitado que é uma câmara. A não ser que se goste de comer sempre ovos estrelados...
1 Comment
12/3/2016 01:45:16 pm
Excelente texto....já dizia o outro também.... "não se fazem omeletes sem ovos"....neste caso....é preferível o ovo cru e depois decidirmos como o cozinhar.
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