Como alguém me disse recentemente: ele há gente (gente?) com o cérebro desligado. Por azar enfiam-se na perspectiva de um fotógrafo em busca do melhor ângulo. Recentemente, ao anunciar uma saída fotográfica em torno do Jardim dos Budas, no Bombarral, referi que ali, mesmo sem querermos, temos sempre oportunidade de registar comportamentos que nos deixam a pensar no que a Civilização realmente representa. Confirmei, durante a realização dessa visita, que a saga continua. E para eu sentir que não estava só na raiva de ver como algumas criaturas ditas inteligentes (inteligentes?) se comportam, os meus companheiros de viagem tiveram oportunidade de verificar ao vivo como famílias inteiras trepam estátuas acima (em simiesca ginástica) para selfies e outras fotografias com que preenchem seus álbuns fotográficos. É realmente difícil de entender o que passa pela cabeça – tenho dificuldade em afirmar que existe algures dentro da extremidade um cérebro… - destas criaturas. São jovens e menos jovens, são adultos com crianças de colo, são casais em romântico passeio e pais que prantam as criancinhas no topo das estátuas para depois as registarem no seu tablet fotográfico. Lá diz o ditado, “de pequenino se torce o pepino”. Como vão estar crianças fazer diferente se as fotos-memória da infância forem de completa falta de respeito por tudo? Para além da estupidez, falta de civismo e outras coisas, o que se nota neste processo é uma continuada e crescente atitude de “cheguei e faço o que quero”. Já não basta a gritaria de alguns, no seu afã de obterem o melhor registo de todo um grupo sentado, pendurado nas estátuas – é até a limitação da liberdade e direitos dos outros, que só querem apreciar o jardim e a estuária sem excrescências esperneando e ensaiando poses. É que alguns destes processos traduzem-se num nunca mais acabar de fotografias, tornando, até, a vida difícil a um visitante que só queira fazer o que acho normal: ver e fotografar as estátuas. Até aceito que algumas pessoas queiram uma foto junto das estátuas, mas que eu saiba não é necessário escalá-las, abraçá-las, como algumas criaturas fazem, para o retrato. Afinal, ninguém sobe pela Torre Eiffel acima – a não ser pelos processos convencionais - para ter um retrato seu ali. Se bem que, em Lisboa, tenha visto como alguns pretendem integrar o grupo de navegadores na nau dos Descobrimentos liderada pelo “Navegador”. Enfim, ele há gente, como dizia um dos meus companheiros de viagem, que tem o cérebro desligado. Frito, queimado, irrecuperável, diria eu, ao ver como algumas destas criaturas respondem a uma chamada de atenção. Incham os ombros e o peito, resmungam um impropério e continuam. Chamam a isto inteligência? Vejam o caso da Ângela e do Nelson, que em 2015 acharam por bem escrevinhar no pé direito de uma das estátuas o sinal do seu amor. Não há direito que obriguem os outros a testemunhar, de tão idiótica forma, o que lhes vai… não sei onde, porque no cérebro por certo não é. Eles são só um exemplo, porque o pé não é caso único. Muitos outros elementos das estátuas em redor estão igualmente marcados por estes sinais de falta de civismo. E a tinta vai-se soltando, também, pelo pisotear de manadas de criaturas. O que é estranho em tudo isto é que mesmo os funcionários do jardim, porventura de tantas vezes assistirem a esta falta de respeito, não tugem nem mugem, obrigando os escaladores a desistirem do intento. Já que as placas espalhadas pelo jardim parecem não ajudar, mesmo estando em Português e Inglês. E acredite-se, um fotógrafo no terreno, que está ali pelo belo dos enquadramentos permitidos, tem dificuldade, em certas alturas, em competir com a fila de gente pronta para uma escalada fotográfica. Temos de ficar à espera que os apêndices se soltem das estátuas, para conseguirmos uma fotografia de jeito. A publicação de uma fotografia desta última viagem no Facebook de um dos participantes, levou-me a escrever esta nota, que completa o que ele pediu: deixem os Budas em paz! A foto publicada, essa mereceu de imediato um comentário acertado de um amigo de outras paragens, que escreveu simplesmente: WTF!
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